quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Já há algumas noites tenho dormido com uma menina que nunca vi antes e já tornou-se sonho. Não é bonita, mas se faz encantadora aos olhos de quem quer que seja. Revira meus lençoís, me faz resfolegar, e quando acordo sem ter dormido ela ainda está lá. Perturbando-me, enchendo meus ouvidos com suas histórias que não vão pra história. Me visto dela e com ela, saio com ela e pra ela. Enfrento este trânsito que daqui há alguns anos será paulista enquanto ela fecha meus olhos, me rouba, quer que eu seja inteiramente dela, e a gente sempre acaba sendo o que as meninas querem. Vou despertando ao som das buzinas e sirenes, vou despertando com o cheiro da quase morte. Nem sequer posso abrir os olhos e sinto gosto de sangue fresco a quebrar o meu jejum.
A multidão como toda multidão assiste o espetáculo de vidro estraçalhado e aluminio retorcido em polvorosa. Querem saber como estou: Eu não estou. Estão quase apostando que morri, porque morrer não é grave, mas como se morre é.
Se eu ao menos pudesse sentir minhas pernas pesarem, levantaria daqui e gritaria a todos: Eu estava apenas sonhando. Não posso. Minhas palpebras ensaiam se abrir quando percebem pelo cheiro a volta dela, cheiro de morte viva. Que se aproxima, que me seduz, que me invade, segura minha mão e sussurra:
- Vou te levar pra ver o mundo de cima!

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